Por que muitos insistem nas escolhas ruins
Escolher mal é decorrência de educação limitada, falta de informação ou de orientação sobre possíveis armadilhas em contratos, investimentos de risco e operações de crédito. Não raro, pessoas em dificuldades imploram a anistia de juros e o perdão de dívidas, na esperança de que a outra parte assuma por um erro seu. O alívio, somado à falta de orientação, pode conduzir novamente a más escolhas. Não é o perdão de uma ou outra dívida que solucionará o problema. Dívidas são contraídas para atender a uma necessidade de pagamento. Extinguir a dívida não garante, necessariamente, a extinção de uma necessidade. Em breve, outro desequilíbrio pode acontecer e começar a formar outra dívida impagável.
A melhor maneira de solucionar dificuldades financeiras é ajustar o padrão de escolhas para comportar ajustes diante de imprevistos e aumentos de preços. Isso se faz reduzindo gastos fixos (cujo excesso é uma má escolha que leva ao endividamento não planejado), em favor de gastos que possam ser ajustados em meses ruins, como gastos com lazer, educação e cuidados pessoais.
Em geral, a desculpa dada para não reduzir gastos fixos é que a mudança resultará em perdas. Por exemplo, posterga-se a troca do automóvel por um mais barato porque o atual está com pouco tempo de uso. Posterga-se a troca do imóvel porque o mercado está ruim ou porque ainda está financiado. Posterga-se o cancelamento do título de capitalização porque a maior parte do valor investido será perdida. Para fugir da perda, muitas famílias mantêm na garagem automóveis que esgotam o orçamento com seguros, impostos e alto consumo. Outras moram em imóveis que jamais terão mobília confortável ou que consomem mais que o previsto do orçamento. Continuam a contribuir com planos e serviços que, com o tempo, acumulam mais prejuízos.
Para eliminar problemas financeiros, assumir uma perda como um custo pelo aprendizado pode ser bastante saudável, principalmente se a perda pode conduzir a ganhos. Perde-se na venda do imóvel no mercado ruim, mas ganha-se na compra de outro pelo mesmo motivo. Perde-se ao resgatar um título de capitalização, mas inicia-se o investimento em um plano de previdência que pode assegurar o futuro.
Gustavo Cerbasi é Mestre em Administração/Finanças pela FEA/USP, formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com especialização em Finanças pela Stern School of Business – New York University e pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Foi eleito pela revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes.
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