O Dia Internacional das Mulheres é celebrado sempre no dia 08 de março, mas além de felicitações, é preciso reconhecer a existência de uma luta desigual, que mantém as mulheres sob constante julgamento e pressão, em uma intensidade a que os homens desconhecem.
Diante disso, dando continuidade a nossa série de entrevistas com Mulheres que Inspiram, conversamos com a professora do CERS, Aline Soares, Juíza Federal do TRF5, que reforçou a necessidade de, apesar de tudo, seguir em frente!
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A maternidade e o estudo para concurso
Uma grande dificuldade enfrentada por muitas mulheres que sonham com a aprovação no concurso público é conciliar o cuidado com os filhos e a rotina de preparação. Sabemos que a jornada não é simples e as cobranças vão além das que a própria mulher se impõe. A sociedade costuma esperar que haja uma escolha entre a maternidade e o sonho profissional. Diante disso, a professora Aline Soares compartilha a sua experiência:
“Confesso que não foi das tarefas mais simples e fáceis, especialmente pela cobrança que nos fazemos de sermos mães de excelência, porque é essa a expectativa social. As pessoas “romanceiam” a maternidade, especialmente na fase que estava, pós parto, e costumam esquecer que viramos mães, mas seguimos sendo mulheres, pessoas com sonhos e objetivos anteriores à maternidade e que não temos o dever de abandonar tudo por conta da maternidade, mas sim de conciliar, adequar, sermos ajudadas, inclusive. Assim, era meu filho dormindo, eu estudando; achando tempo durante o dia, nem que fosse para estudar uma única hora. É um trabalho que demanda maior disciplina e organização, mas possível e necessário. Eu creio que a maternidade me fez e faz uma pessoa melhor; assim, isso resvala em todas as áreas nas quais atuo, inclusive na profissional. A maternidade nos torna mais generosos e desprendidos.“
Obstáculos enfrentados pelas mulheres
Apesar dos avanços, ainda há muito a evoluir em termos de igualdade. Há obstáculos presentes apenas na jornada da mulher e que geram inúmeras consequências em diversos âmbitos da vida. Sobre o tema, a Juíza ressalta:
“Fato; nada está resolvido, ganho ou em estado adequado “da arte”; não bastando os obstáculos fáticos existentes, como questões exclusivamente femininas, ainda existe bastante resistência social incrustada no meio social, nas corporações e nas próprias casas. Eu creio que já derrubamos algumas barreiras, mas ainda há muito o que fazer. Etarismo, misoginia, violência de todas as formas, da física à patrimonial, submissão e preconceitos são ainda obstáculos duros e objetos de combate até o dia que possamos respirar o devido ar que devemos. Gosto muito de uma fala de Ruth Ginsburg: até que tiremos os pés de nossos pescoços.”
A persistência dos preconceitos
Infelizmente, as discriminações de gênero permeiam os mais diversos âmbitos da sociedade e o setor público também reflete esse problema. De acordo com a professora, isso reforça a necessidade de que as mulheres não se privem de lutar pelos seus espaços:
“Não pense que exercer um cargo de parcela de Poder do Estado me blindou, muito pelo contrário! A impressão, às vezes, é que temos que viver provando que somos tão boas e eficientes quanto! Por isso que cada vez mais, mulheres devem ocupar lugares comuns a todos e todas: para que se torne comum e preconceitos sejam extirpados. Lidei como sempre lido com tudo: não abrindo mão de meus valores e deixando bem claro que a palavra “profissional” é substantivo comum de dois gêneros!“
O sonho não pode ser silenciado
Apesar das dificuldades, é preciso seguir em frente! Seja qual for o seu sonho, é preciso persistir e ir à luta. A professora, então, deixa um recado àquelas que estão em busca da realização de seus objetivos:
“Sei o que elas vivem; sei das aflições e cobranças que se fazem e especialmente aquelas provocadas pela sociedade. Sei porque vivi. Lembro das pessoas me cobrarem satisfação, felicidade e gratidão pelo que tinha, embora aquilo não fosse meu objetivo, meta ou sonho, como se para uma mulher, qualquer coisa fosse o suficiente. Acreditem em suas vozes interiores; apesar do caminho poder, às vezes, ser duro, trabalhoso e muito cansativo, não há como se arrepender de viver a vida que se buscou! Voem, meninas! Estudem muito! Façam a parte de vocês e sem amarras! Enquanto tudo fizer sentido, jamais permitam que lhes provoquem a desistir! Sigam em frente!”
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