Em meio a tantas polêmicas acerca de liberdade de gênero, a Polícia Militar do estado do Paraná, em recente Edital de concurso para cadetes, exige no Edital um grau de “masculinidade” maior ou igual a médio em sua avaliação psicológica. O assunto despertou a interesse de juristas e especialistas em concursos públicos de todo o Brasil. Ainda segundo o edital, o candidato precisa de um índice menor ou igual a médio no “quesito” “afago”. Ou seja, o candidato não deve gostar muito de ser ser afagado, protegido ou amado (esta lá no edital). “A gente entende que isso é uma cláusula discriminatória que atenta contra a nossa Constituição Federal. A Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (ANPAC) vai oficializar o Ministério Público do Paraná para adotar as providências cabíveis”, comentou o professor e advogado Renato Saraiva, especialista em preparação para concursos. Portanto, a PMPR exigir grau de masculinidade em concurso para cadete ainda vai dar o que falar.
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O polêmico Edital: masculinidade em concurso para cadete
No Anexo II – PERFIL PROFISSIOGRÁFICO – AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA – AP, do Edital, existem várias características que serão observados no candidato a partir dos psicólogos avaliadores. Dentre elas está a masculinidade. Ela é classificada no Edital como sendo: “Capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”. A pergunta é: o que interfere em ser mais ou menos masculino? Esta “característica”, o edital pede que o candidato a tenha acima ou igual ao índice médio.
Sobre o quesito afago
Outro ponto abordado no Edital fala de “afago”. O texto aponta afago como “Capacidade de o indivíduo buscar apoio e proteção; o quanto um indivíduo espera ter seus desejos satisfeitos por alguma pessoa querida e amiga, deseja ser afagado, protegido, amado, orientado, perdoado e consolado, além da necessidade de constantemente ser protegido de sentimentos de abandono e ansiedade, insegurança e desespero”. Aqui, o índice, ao contrário da masculinidade, precisa ficar abaixo do médio, ou igual pelo menos, se não o candidato é reprovado.
Retrocesso
Para a psicanalista Thessa Guimarães, o termo “masculinidade”, seguindo sua classificação no Edital do certame, é uma evidência do discurso de machismo no Brasil. “De fato, no jargão popular, masculinidade significa tudo isso. O problema é que essa correspondência entre masculinidade e frieza emocional é resultado de um processo histórico de subjetivação misógina, que ensina as meninas a cuidar e obedecer, e os meninos a dominar, agredir e exterminar, se preciso”, comentou em entrevista ao Correio Web.
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