Arrumar as malas e viajar para outros Estados visando concursos públicos regionais deixou de ser uma tendência para se tornar uma prática comum entre os candidatos. Para eles, não há fronteiras quando o objetivo é alcançar a aprovação. Saber que existe a possibilidade de ficar um bom período longe de casa até assusta alguns, mas não os impedem de continuar a jornada.
Rumo à aprovação
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Brasília, Goiás, Alagoas, Bahia, Pará e Rondônia. Esses foram os destinos do pernambucano Frederico Alencar, 26 anos, nos últimos dois anos. Quando começou a estudar para concursos públicos, Fred não tinha intenção de se inscrever em seleções para outros estados.
“Mudei de ideia quando fiz a prova do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e não fui aprovado. Então, viajei para fazer o concurso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, e a experiência me fez abrir a mente para outras oportunidades”, revelou o advogado. Entre os concursos já realizados, estão os concursos do Tribunal Regional Federal (TRF) e Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em São Paulo, e ainda o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), em Manaus.
No início, ele se inscrevia apenas para os certames destinados às grandes capitais do País, mas hoje topa tudo. “Quero passar. Depois eu resolvo, continuo estudando para sair mais rápido do local, já que a transferência pode demorar. Se não conseguir para Recife, pelo menos para uma capital ou cidade com melhor qualidade de vida”.
A maratona de viagens, os anos de estudo e a expectativa tendem a deixar muitos candidatos ansiosos, sentindo-se sob pressão. E a solução é ir atrás da aprovação seja ela onde for.
Mudança de vida
Não é à toa que os Tribunais Regionais são os que mais atraem os candidatos de outros Estados. A possibilidade de transferência após certo período de atividade é a motivação para muitos concurseiros se lançarem neste desafio. Afinal, morar em um lugar desconhecido, longe da família e dos amigos, não é nada fácil. É uma mudança na vida profissional e pessoal que precisa de adaptação.
A advogada Isaura Ramos, de 26 anos, também trilhou esse caminho na busca da aprovação no serviço público. Mas sempre com a ideia fixa de voltar para casa. “Faço as provas com o pensamento na possibilidade de voltar. Se fosse para exercer a atividade permanentemente em outro estado, não toparia”.
Isaura já viajou para mais de seis estados, realizando provas em Tribunais Regionais. A única seleção local que participou foi o Tribunal de Justiça de Alagoas, por considerar mais viável e próximo ao Recife, onde mora.
Em setembro de 2013, ela recebeu uma ótima notícia: foi aprovada para o cargo de técnico no TRT/PA. O edital do concurso prevê a opção do candidato listar as cidades que deseja trabalhar. Ela preferiu passar a vez e aguardar o surgimento da vaga em um dos locais escolhidos, Belém ou região metropolitana, por oferecer melhor qualidade de vida.
Por perto
Mesmo almejando a aprovação, Erivaldo Baldino, 26 anos, compartilha da opinião que nem todo lugar é válido. Assim, ele decidiu por prestar concursos públicos preferencialmente no Nordeste – todos para o TRT. E lá se foi Bahia, Ceará, Alagoas. Erivaldo ainda arriscou o certame no Pará, no Norte. E acabou se mudando para lá de uma vez após a aprovação. “Eu optei pelo TRT pela remuneração atrativa, por ser a área de minha preferência e ainda ter o histórico de chamar mais candidatos que os outros tribunais”, explicou. Formado em administração de empresas, Erivaldo concorre aos cargos técnicos, mas já planeja cursar Direito visando o cargo de analista judiciário. Resumindo: vai continuar estudando.
Outro que não topa tudo Brasil a fora, é o advogado Matheus Aguiar, 25 anos. Ele simplesmente passou para um dos concursos públicos mais almejados – Procurador da Fazenda Nacional, mas acredita que não vai assumir o cargo por possivelmente ser deslocado para o Norte. Enquanto aguardava ansioso o resultado do concurso para advogado da Caixa Econômica Federal, ele pediu o final da fila até tomar uma decisão.
“Prefiro estar próximo da minha família. Apesar da remuneração ser um pouco melhor, o custo-benefício não compensa, pois teria muitas despesas que não tenho aqui e ainda estaria longe de casa, onde me sinto bem”. Para ajudar a acabar com o dilema, ele foi aprovado no concurso da Caixa, abriu mão da vaga na Procuradoria, e está muito bem, obrigado!
Na ponta do lápis
Enquanto a aprovação não vem para outros (ou a maioria), o jeito é continuar viajando e estudando sem desanimar. O que, claro, gera custos e demanda planejamento.
Desde a época da faculdade de Direito, advogar estava em segundo plano para Fred. O objetivo maior sempre foi conquistar uma vaga no serviço público. Para isso, ele se programou direitinho. Reservou metade do dinheiro recebido durante todo o período de estágio. Hoje, ele colhe o fruto do esforço empreendido no passado e pode se dedicar aos estudos sem maiores prejuízos.
“Os custos das viagens afastam. Tive sorte, aproveitei promoções e outras oportunidades que surgiram. Se não fosse isso, teria desistido de fazer pelo menos metade dos concursos”, comenta.
Na tentativa de diminuir os gastos, Fred já se hospedou na casa de amigos. Mas confessa que não gostou da experiência. “Você recebe tanta atenção, que acaba não conseguindo ficar só para estudar e prejudica a revisão do conteúdo”.
Isaura contava exclusivamente com o apoio financeiro dos pais para se dedicar aos estudos. Em julho do ano passado, passou a trabalhar após ser selecionada para um contrato temporário na Prefeitura do Recife que ajuda a pagar os gastos com os estudos e viagens.
“É caro. Depende muito do local, mas gasto em média R$ 800 com passagem, hospedagem, transporte e alimentação para realizar a prova em outro estado. Isso porque divido algumas despesas com amigos que vão fazer a mesma avaliação”, calcula.
Ir ou não ir: eis a questão
Essa dinâmica tem provocado a elevação da concorrência por todo o País. A quantidade de candidatos inscritos vem superando as expectativas. E ao mesmo tempo em que realizar um maior número de provas tende a tornar a aprovação mais iminente, a relação candidato/vaga vem na contramão, dificultando todo o processo.
Como já divulgado anteriormente na Revista Edital, o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT/BA) recebeu 71.143 inscrições no ano passado. O órgão ofereceu 14 vagas para cargos de nível médio e superior, chegando a uma concorrência de 7.641 candidatos por vaga. Pois é, está todo mundo de olho nas vagas dos vizinhos.
No entanto, a decisão de realizar concursos públicos em outros estados é um desafio que deve ser avaliado de acordo com o perfil pessoal e pretensões profissionais de cada um.
Quanto mais concursos você realizar – estando bem preparado, claro – mais chances de ingressar na carreira pública. No entanto, não adianta traçar esta rota se você não está disposto a abrir mão de outras opções. O desgaste da maratona de provas, os custos das viagens, os futuros anos longe da família. A relação custo-benefício precisa ser sempre considerada.
Aos que já estão determinados a ir do Oiapoque ao Chuí em busca das melhores oportunidades: boa sorte!
*Adaptação da Matéria publicada na Revista Edital – Fevereiro/2014.
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