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Mulheres que Inspiram: Angelica Sigollo, Promotora do MPSP

Rayssa Leal
Por:
Publicado em 10/03/2023, às 12:38 Atualizado em 10/03/2023 às 12:40

Finalizando a nossa série Mulheres que Inspiram, entrevistamos a Professora do CERS e Promotora de Justiça do MPSP, Angelica Sigollo, que ressaltou a necessidade de seguir lutando para a superação de tantos obstáculos impostos às mulheres, especialmente no meio profissional.

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

Mulheres que Inspiram: Angelica Sigollo, Promotora de Justiça do MPSP

Ser mãe e servidora pública

É inegável as dificuldades em ser mãe e ser profissional. É preciso conciliar inúmeros compromissos e ainda, infelizmente, lidar com julgamentos por não atender ao esperado socialmente. Nesse sentido, a professora nos contou um pouco sobre a sua experiência e em como isso lhe trouxe duras consequências:

“Sou mãe de gêmeos. Engravidei após 4 anos de ingresso no cargo de Promotora de Justiça no MPSP, já vitaliciada e às vésperas de titularizar um cargo, circunstâncias que facilitaram o pós-parto, pois juntei férias e licença maternidade, ficando 9 meses com os bebês antes de retornar.
Voltar ao trabalho foi um desafio e até hoje tem sido complicado conciliar com a maternidade, porque hoje ambos competem por minha atenção, que antes era totalmente voltada ao profissional.
No meio de tudo isso, com uma expectativa irreal de dar conta de tudo acabei adoecendo em sendo diagnosticada com burnout, o que demonstra que o peso que a mulher, mãe e profissional carrega não é nada leve.”

Igualdade formal entre homens e mulheres

Lidar com a discriminação também é um peso a se carregar. A igualdade entre homens e mulheres, garantida constitucionalmente, ainda está longe de ser aplicada em todos os contextos. Nesse ponto, a Promotora destaca:

“Não se trata de suposição, estudos provam a desigualdade de homens e mulheres em diversos segmentos da sociedade, e no trabalho não é diferente: mulheres ocupam menos cargos de alto escalão – inclusive no serviço público, seus salários em mesmos cargos que homens são menores e ainda assumem carga horária total de trabalho (fora e dentro de casa) muito maior. Como se vê, a suposta igualdade entre homens e mulheres é de cunho formal, garantida em instrumentos internacionais, constituição federal e leis.

Na prática, contudo, ainda precisamos superar essas diferenças além de enfrentar outro tema, que vejo como o principal obstáculo para a mulher alcançar seus objetivos: a sobrecarga mental e física.”

A professora destacou, ainda, como há sempre uma busca para que as mulheres, constantemente chamadas de “guerreiras” deem conta de cada vez mais compromissos:

“Isso porque, a conquista ao direito de trabalhar trouxe para a mulher uma “missão”: pode trabalhar fora DESDE QUE continue cuidando de todas as tarefas do lar. A soma dessa carga é o “preço” que pagamos até hoje para nossa emancipação. É óbvio que trabalhar nessas condições é desumano e em nada iguala os direitos de homens e mulheres, por isso penso que precisamos avançar e parar de romantizar a figura de “guerreira”, pois não somos guerreiras e nem queremos ser; somos seres humanos iguais aos homens e nos cansamos, ficamos desanimadas e sucumbimos, então se manquem homens do mundo, façam a parte de vocês, que não tem nada a ver com ajudar as mulheres… não precisamos de ajuda, se fizerem a parte de vocês.”

Discriminação de gênero

Espera-se sempre que a mulher seja uma super-heroína, que seja capaz de conciliar o que não é conciliável. Sobre o tema, a professora e promotora destaca a sua experiência:

“Para ser sincera sempre quis negar a existência de preconceitos com as mulheres, defendendo uma meritocracia que demorei a perceber que não existe. Achava que não importava o gênero, mas sim as competências pessoais, e o mercado de trabalho valoraria isso. Mais tarde, já mãe, percebi claramente o preconceito que existem com mulheres, especialmente se tiverem filhos pequenos e mais de 30 anos, consideradas velhas e muito demandadas pela família.

O preconceito por vezes é sútil: te dão uma tarefa que é incompatível com o horário de trabalho, por exemplo, o que demandaria uma dedicação fora do expediente, justamente para ‘eliminar’ mulheres que usam esse tempo para cumprir todas as demais tarefas que a sociedade diz pertencer às mulheres (casa, filhos, família). Ou seja, há preconceito seletivo.

Preconceito como mola propulsora

Apesar de tudo, é preciso seguir. Já foram conquistados muitos avanços relacionados à igualdade de gênero, mas ainda há muito o que alcançar. A promotora, por isso, deixa um recado àquelas que buscam a aprovação no concurso dos sonhos:

“Já inicie os estudos sabendo que seus desafios serão maiores que o de concorrentes homens. Saber isso não deve te desmotivar, mas sim te gerar uma indignação tão grande que possa funcionar como uma mola propulsora para você pular e superar seus concorrentes, provando que a competência supera preconceitos. Como dica verifique qual o percentual de mulheres estão sendo aprovadas no cargo e órgão que você deseja nos últimos anos e reajuste sua expectativa de acordo com a realidade.”

Esse foi o último post da nossa série Mulheres que Inspiram. Esperamos que mais direitos sejam conquistados e respeitados, para que a igualdade entre homens e mulheres deixe de ser meramente formal e seja real. Caso não tenha lido as entrevistas anteriores, acesse:

Mulheres que Inspiram: Mayara Tachy, Defensora Pública do DF

Mulheres que Inspiram: Aline Soares, Juíza Federal do TRF5

Mulheres que Inspiram: Juliana Menezes, Delegada da PCSP

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Rayssa Leal
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Autor

Analista de Conteúdos CERS. Estudante de Direito na Universidade Federal de Pernambuco. Aprovada no 35º Exame de Ordem.

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